09/2010
Scorpions: uma jornada pelo tempo
Em 1988 o mundo ainda vivia sob o chamado “equilíbrio pela força”. Estados Unidos e União Soviética disputavam cada milímetro do planeta buscando a hegemonia de suas pregações ideológicas. Por trás da “Cortina de Ferro” (o termo é erroneamente atribuído a Winston Churchill, ex-primeiro-ministro inglês) algumas mudanças já estavam sendo processadas. Um certo Mikhail Gorbachev dava prosseguimento à sua política de transparência (“glasnost”) e reconstrução (“perestroika”), o que significava a abertura de todos os canais para uma nova mentalidade política, econômica e social. O modelo soviético estava sendo destruído por dentro. Já não atendia mais às necessidades de um povo carente de liberdade de expressão e privado de certas “vantagens” só encontradas nos países capitalistas. E foi nesse “vendaval” de mudanças que naquele ano desembarcou em Leningrado (cidade às margens do rio Neva, na entrada do golfo da Finlândia, hoje São Petersburgo) a banda alemã Scorpions.
O registro da visita (com shows, passeio pela cidade e contato com o povo russo) revelou um lugar de rebeldia e de insatisfações. O irreverente Klaus Meine (vocalista da banda) se mostrou bastante surpreso sobre o modo como a juventude soviética “se virava” para ouvir o rock produzido nos países do Ocidente. Como havia muitas proibições e as bandas ocidentais não podiam entrar no país, os jovens sintonizavam uma rádio da Finlândia, gravavam as músicas em aparelhos portáteis e “rodavam” a fita de mão em mão. Claro, a qualidade de áudio ficava aquém do que queriam esses irreverentes “prisioneiros da ideologia”. A banda também visitou um clube onde eram realizados shows de rock’n roll. Enfeitando o palco onde os cantores se apresentavam podia ser vista, estampada, a imagem de Lênin, o pai do sovietismo. A questão era saber se os jovens estavam de acordo com o “Lênin na parede”. Podia ser uma imposição do regime que agonizava. E o Scorpions tocou com a banda “Perestroika”, num show que revelou muita irreverência e pouca vontade de permanecer sob aquele regime.
“To Russia with love and other Savage Amusement” é o título do DVD gravado especialmente para registrar a passagem do grupo alemão pela cidade de Leningrado. Meine foi a uma loja de discos (de vinil, claro) e procurou um do Scorpions. Mas não se surpreendeu com a informação da vendedora de que ali não seria encontrado um único LP do grupo. É explicável: a KGB, a polícia política da URSS, ainda estava muito ativa e o processo de mudanças não havia se completado. Isso só viria a ocorrer no ano seguinte à visita do Scorpions a Leningrado, quando o Muro de Berlim finalmente veio abaixo.
POST-SCRIPTUM:
O portal R7 anunciou que o show do Scorpions, amanhã (sábado, 11 de setembro) no estádio O Almeidão, em João Pessoa, durante o Sun Rock Music Festival, será gravado com câmeras de alta definição. Partes das gravações será usada na composição do DVD blu-ray, que documentará a turnê do grupo alemão intitulada Get your Sting and Blackout World Tour 2010. Segundo o mesmo portal, a base do disco será uma apresentação que o grupo fará na Alemanha. Rudolph Schenker, o líder do Scorpions, anunciou que o grupo estará encerrando suas atividades e que o álbum Sting in the tail, lançado recentemente, é o último de sua discografia. O Scorpions está nas paradas desde o inícios dos anos 70 e se transformou numa das maiores bandas de hard-rock do planeta com hits como Rhythm of Love, Blackout, Send me an Angel, Rock you like a hurricane, Wind of Change (música que fala exatamente sobre a queda do comunismo) e outras que por muito tempo estiveram nas paradas de sucesso em vários países.
Quem for ao estádio Almeidão certamente verá uma das últimas relíquias do rock’n roll. Vá e curta. Vale a pena.
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