Minha amiga Licia Maria esteve recentemente na Chapada Diamantina. Fez belas fotos,que colocou num álbum com legendas pra lá de poéticas.
Por e-mail, contou-me as peripécias da viagem em companhia do marido.
Isso tudo me trouxe recordações: em 1995 eu também estive na Chapada Diamantina. E, como Licia e Alvinho, também fui a Caeté-Açu, no Vale do Capão.
Anos depois, já no século seguinte, tentei uma vaga na equipe d'O Viajante, que selecionava colaboradores para a edição latinoamericana de seu guia de viagem. Como parte das provas de seleção escrevi um texto contando parte da viagem.
E não é que, coincidentemente, entre antigos guardados, dou com esse texto, do qual já nem me lembrava?
Ei-lo aí, então, sem nenhuma vírgula a mais ou a menos:
Uma viagem marcante
Depois de alguns dias em Lençóis com dois amigos, fazendo o que todo turista comum faz, decidimos ir ao Lothlorien.
Fica ali no coração da Chapada Diamantina, em pleno Vale do Capão. Rodeado de montanhas. Um espetáculo!
Mochilas no carro, mapa na mão e lá fomos nós, contrariando a todos a quem pedíamos informações. O caminho era ruim, diziam. Havia muitas pontes caídas. Resolvemos arriscar. Afinal, o verão de 1995 estava seco, não havia de ser um corregozinho que nos atrapalharia. E não foi mesmo.
As acomodações são bem rústicas. Sem luz elétrica. Mas também, pra quê? No céu a lua cheia iluminava tudo e fazia tanto calor que só um louco tomaria banho quente.
Na pousada, mantida por uma comunidade esotérica, as mulheres se encarregavam de tudo. Comida natural. Saudação ao Sol antes do café da manhã, runas, massagens, tarô.
Na primeira manhã, levando lanches especialmente preparados para caminhantes, nos dispusemos a enfrentar os 7 quilômetros de subida para a Cachoeira da Fumaça. Voltamos no final da tarde com os olhos cheios de belezas nunca vistas. A cachoeira, com quase 400 m de altura, estava meio seca, mas ainda assim era impressionante.
À noite, festa no povoado. Era a comemoração do dia do padroeiro: São Sebastião. Forró.
Mulheres dançando com mulheres, já que nesses povoados os homens são escassos. E a sanfona chorando...
Alguém nos disse que no quintal daquela grande casa na praça havia uma pizzaria. Fomos conferir. Nos acomodamos numa mesa embaixo das árvores. Nunca, em minha vida paulistana, havia comido uma pizza tão boa. Massa de farinha integral, recheio de legumes. Manjar dos deuses!
Dia seguinte, passeio às cachoeiras locais.
Lindas, totalmente inexploradas e desertas. Ali passamos parte do dia em companhia das mulheres e crianças da pousada, que nesse dia foram as nossas guias. À tarde, banho de rio. Todo mundo nu, claro!
Deixar o Lothlorien foi difícil. Mas, outras grandes aventuras nos esperavam e assim... mochilas no carro e mapa na mão, lá fomos nós rumo ao nosso próximo destino.