quinta-feira, 15 de março de 2012

ANJO AZUL - POEMA

anjo azul quando a memória marca a ferro cálido um cerco invisível no oco que oprime a história do mundo quando as bolhas tropicálias movem-se em mantos de transgressões tatuadas no escândalo das coisas ocultas quando as certezas das vulvas cerzidas no agasalho das noites de banzo ou loucura ousam o lúdico no fálico quando nossas culpas percorrem impunes o silício das guerrilhas vencidas dentro de uma guerra perdida então o tempo se faz muito mais que um rito espalmado na solidão coletiva plástico e pulsante numa maresia que não corrói pois que se faz do abismo e do pano impermeável que cobre nossas asas na travessia e na travessura dos dias colhendo do cerco todas as saídas como um anjo azul na devassidão nua do universo Um beijo carinhoso, May! De presente, vai este poema nascido pra tu, agora, em plena tentativa de scrap.  Parabéns, guerreira. Feliz aniversário!

NAS ONDAS DO BBB

Nas Ondas do Big Brother ______________________________ Carlos Baqueiro cbaqueiro@terra.com.br Parece que o Big Brother está mesmo na moda. Na Terça-Feira de Paredão o mestre de cerimônia, Pedro Bial, transformou o programa global popularíssimo em sucursal da Academia Brasileira de Letras. Citou Macunaíma, de Mario de Andrade, e o Malandro Carioca de Chico Buarque, relacionando-os a dois participantes mal vistos pelos assistidores do BBB12. Televisão, por mais que não aparente, e que não se queira acreditar, também é cultura. O BBB é o reality show brasileiro mais famoso. Daqueles que colocam gente dentro de um local fechado, dezenas de câmeras e microfones, e haja vigilância, junto com uma determinada mistura de exibicionismo e voyeurismo. Ironias e cinismos a parte dou minhas risadas assistindo as baixarias e artimanhas dos participantes. Apenas me entristeço porque nem todo mundo sabe de onde vem o termo Big Brother. Bem que Bial poderia qualquer dia desses aproveitar a bela audiência que tem o programa e falar de George Orwell. É dele a idéia de um Big Brother (Grande Irmão) que se encontra 24 horas por dia de olho em cada um dos habitantes da Inglaterra (no livro 1984, denominada Oceania, junto com os Estados Unidos). Encontrei na Internet as revistas Filosofia e Aventuras na História abordando justamente a obra de Orwell. No artigo (capa da primeira revista) “Como Eles nos Controlam ?”, o Mestre em Filosofia Renato Bittencourt faz uma análise das obras de Orwell (1984) e de Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo). A partir das teorias de Michel Foucault acerca da Sociedade Disciplinar ele percebe como em ambos os livros os autores conseguem sintetizar a idéia de que “a aspiração utópica pela estabilidade social corre o risco de se tornar uma distopia”. Bittencourt também percebe como, por exemplo, duas sociedades com propostas diferenciadas com relação ao sexo têm no final das contas os mesmos objetivos com relação ao controle sobre os indivíduos. O sexo em 1984 é censurado, inibido, castrado: O projeto do Partido era eliminar todo prazer no ato sexual. A pulsão sexual era perigosa para o Partido, que a utilizava em interesse próprio. Tal dispositivo é um grande mecanismo para a ampliação do grau de tensão psíquica da massa, que, impedida de gozar e satisfazer os seus desejos, reprime os seus instintos e se aliena das suas capacidades transformadoras, tornando-se infeliz e submissa diante da autoridade de uma ideologia política vazia, que usa palavras de ordem e da manipulação de informações para concretizar o seu poder totalitário.. Enquanto isso, na sociedade criada por Huxley as práticas sexuais são incentivadas pelo Estado. A liberalidade sexual neste caso ao invés de representar uma situação positiva para os indivíduos se torna mesmo uma armadilha. Junto com uma droga (também liberada pelo Estado) chamada Soma, a “liberdade” sexual torna-se uma ferramenta de alienação e controle da população. Já na revista Aventuras na História de Abril de 2010 (encontre o download rolando por sites na rede, ou compre a Revista no site da Editora Abril) encontramos também uma outra análise do livro de Orwell no artigo "O Grande Irmão está te Vigiando", escrito por Álvaro Opperman. Neste artigo o autor faz um pequeno resumo da história do livro 1984, além de uma biografia reduzida de Orwell. Ao final do artigo o autor faz uma ligação entre os BIG-BROTHERS de Orwell e o de John de Mol (criador da idéia do famoso reality show). A relação entre autoritarismo e voyeurismo é debatida. John de Mol tenta explicar que “na obra de Orwell é o governo que observa tudo através das câmeras – ele fala de autoritarismo e não de voyeurismo, como é o nosso caso”. Contradizendo esta opinião, Opperman cita o historiador Johann Huizinga para quem “uma das chaves para o sucesso dos regimes autoritários é estimular a bisbilhotice alheia”. Isso nos faz lembrar das nossas conhecidíssimas ditaduras: Cuba e China, apenas como exemplo, quando até hoje uns deduram os outros, e as prisões ainda ocorrem sem qualquer direito de defesa. Cuba até bem pouco tempo possuía um dos maiores e mais “brilhantes” esquemas de deduragem, os CDR (Centro de Defesa da Revolução) onde desde crianças os indivíduos eram treinados a identificar indícios de contestação ao regime, onde quer que fosse, nas suas escolas, e mesmo dentro de suas próprias casas. Vem a mente uma sequência de 1984, quando o próprio filho dedura o pai, ambos vizinhos do desesperado Winston Smith. Da mesma forma que Cuba levava seus “subversivos” aos paredões, nesses tempos de reality shows somos nós mesmos que temos o poder de levar aqueles que não nos agradam aos paredões midiáticos, conseguindo premiar tanto Macunaímas, quanto Alices.