segunda-feira, 20 de agosto de 2012

SE EU PUDESSE ( Crônica de Danusa Leão )

Folha de São Paulo - jornal
19/08/201219/08/2012

Se eu pudesse

Se eu pudesse, mudava minha vida toda; não que ela esteja ruim, mas só para ver que ela pode ser diferente.
Se eu pudesse, me desfaria de muitas coisas, da minha casa e de quase todas as roupas. Afinal, quem precisa de mais do que dois pares de sapatos, dois jeans, quatro camisetas e dois suéteres, sobretudo quando anda pensando em mudar de vida?
Se eu tivesse muitas joias, enterrava todas elas na areia da praia para que um dia alguém enfiasse a mão brincando, assim para nada, e tivesse a felicidade de encontrar um colar de brilhantes. Afinal, dá para viver sem, não dá?
Das algumas garrafas de champanhe guardadas cuidadosamente, na horizontal, daria para abrir mão, sem nenhuma possibilidade de remorso futuro; champanhe, além de engordar, não passa de um espumante metido a alguma coisa, e nem barato dá, de tão fraquinho que é. Dos vinhos, mais fácil ainda; nada melhor do que o velho e bom uísque, com o qual sempre se pode contar.
E as amizad es? Aliás, as amizades, não: as relações. Ah, se tivesse coragem, compraria um novo caderno de telefones e passava só aqueles pouquíssimos nomes que realmente têm algum significado, e que são tão poucos que nem precisaria escrever. Guardaria todos de cor, não na cabeça, mas no coração, e um dia me esqueceria de todos eles.

Se eu pudesse, iria recomeçar a vida em outra cidade, talvez em outro país, para nada, só para começar tudo do zero. Para às vezes sofrer bastante, pensando que poderia ter tido mais juízo e não ter feito tantas bobagens, pois se tivesse errado menos poderia ter sido mais feliz -talvez. Mas alguém tem o poder de fazer alguém sofrer, ou a capacidade do sofrimento é um bem pessoal e intransferível?
Se alguém conseguisse ainda me fazer sofrer, seria um acontecimento a ser festejado.
Se eu pudesse -e não tivesse tantos compromissos-, seria vegetariana, passaria as noites em claro e teria muito amor pelos animais e pelas crianças. Mas como tenho horror a qualquer bicho e nenhuma paciência com criancinhas, a não ser com meus bichos e minhas crianças, vou ter que atravessar a vida levando essa pesadíssima cruz -afinal, ficou combinado que de certas coisas não se pode não gostar, e se não se gostar não se pode dizer, que vida.
Se pudesse, largaria tudo e iria embora para um lugar onde ninguém me conhecesse, onde não teria passado nem futuro; para um lugar esquisito no qual não entenderia a língua do povo nem ninguém entenderia a minha. Seríamos todos, assumidamente, estranhos -como somos no edifício onde moramos, no local de trabalho, dentro de nossa família. Ou você pensa que alguém conhece alguém porque dá beijinhos no elevador?
Se eu pudesse, quando acordasse hoje de madrugada saía descalça só com um casaco em cima da pele e ia molhar os pés na água do mar, sozinha. Depois, ia tomar um café no balcão de um botequim, como fazem os homens.
Se eu pude sse, rasgava os talões de cheques, cortava os cartões de crédito com uma tesoura, fazia uma linda fogueira com os casacos de pele e ia saber como é que vivem os que não têm, nunca tiveram e nunca vão ter nada disso. E aproveitava o embalo para cortar os fios dos telefones, jogar o celular na tela da televisão e o computador pela janela -deve ser lindo, um computador voando.

Se eu pudesse, raspava a cabeça, acendia dois cigarros ao mesmo tempo e tomava uma vodca dupla, sem gelo, num copo de geleia. E pegaria uma gilete para picar em pedacinhos a carteira de identidade, o passaporte e o CPF, sem pensar um só instante nas consequências e sem um pingo de medo do futuro.
E jogava na lata de lixo meus lençóis, meus travesseiros de pluma, meu cobertor e engolia minhas pestanas postiças, só para aprender que a vida não é só isso.
Se eu pudesse, esquecia o meu nome, o meu passado e a minha história e ia ser ninguém. Ninguém.
Se eu pudesse, nã o, se eu quisesse. Pois é, tem dias que a gente está assim, mas passa.

ENQUANTO UNS NADAM NA CRISE ¨OUTROS¨FAZEM TURISMO

Por José Paulo Grasso

Por que a administração pública não cumpre o que é garantido pela constituição Federal? Moradia digna, emprego com salário digno, segurança pública digna, transporte digno, justiça, educação e saúde pública dignas, se os outros países conseguem? Por que assistimos uma bilionária corrupção, completamente apáticos, enquanto nossa qualidade de vida despenca criando feudos imorais? Até quando conseguiremos ser a 6ª economia mundial, mas com um IDH de 85ª categoria? Porque mesmo com todas essas evidências, surpreendentemente, não há uma oposição ativa acenando com um projeto de mudanças?

Com o controle da corrupção o PIB e a qualidade de vida poderão triplicar em curto prazo!

Repare que o problema dos serviços públicos não é falta de verba, pois salta aos olhos a total falência administrativa do modelo atual, onde impera a mais absoluta falta de transparência e de planejamento para coibir irregularidades gritantes que sustentam a corrupção e o desvio de centenas de bilhões anuais. Não há um plano de carreira coerente que fortaleça as instituições para inibir nomeações políticas que desrespeitam a ética, o bom senso e o servidor concursado especializado no ramo.

Na saúde, por exemplo, constata-se que sobra verba para refazer hospitais que foram abandonados até o colapso para que sob rubrica emergencial, possam ser entregues ao compadrio em obras dispensadas de licitação irrigando a corrupção administrativa. O mesmo aplica-se as compras públicas, cujo critério não é necessidade/funcionalidade e sim “supostamente”, comissão, desmoralizando o bom senso administrativo. Permanecem encaixotadas por não terem áreas dimensionadas para o seu uso, além da ausência de profissionais que as manipulem, sem falar na provisão de recursos para que trabalhem adequadamente. Isto acontece há décadas em todos os setores e nada muda, revelando um desinteresse total por planejamento integrado para que a máquina pública funcione e seus funcionários tenham plano de carreira digno para bem servir a população, como acontece em países aonde existe a social democracia.

Os serviços privados são os piores e mais caros do mundo, as agências reguladoras não agem e agora um serviço de barcas no RJ cobra por bagagem de mão e nenhuma providência é tomada. É como um assalto regulamentado, como no caso da operadora de celular que corta a chamada para ganhar mais.

Atente que a imprensa noticia estas mazelas, mas é imediatamente silenciada caracterizando de forma inequívoca um toma lá dá cá explícito, que envergonha a classe que não tem nada a ver com essa falta de compromisso oligárquico com ética e democracia. Até quando essa diferença abissal entre o marketing governamental e a dura realidade das ruas? O quarto poder vai continuar cooptado, até quando? Sem fiscalização não existe democracia.

É maquiavélica a separação das diversas associações representativas das classes trabalhadoras. Porque até hoje, mesmo com o total insucesso das greves ainda não há o interesse conjunto num planejamento integrado, unindo toda a sociedade para podermos apresentar metas factíveis, apontando de onde virá o desembolso e assim conseguir o sucesso das reivindicações?

Só assim teremos a adesão de toda a coletividade que se encontra desestimulada a participar ativamente exatamente por falta de projetos que apresentem resultados e a leve a sair desta letargia atual. Ou seja, com planejamento integrado se consegue resultados, constrói-se um futuro onde todos se sintam inseridos, apontando de onde virão os recursos, sem demagogia. Aliás, quem são os representados por movimentos como o MST, a UNE, CUT e outros que foram cooptados claramente por verbas públicas?

Como podemos trabalhar no mínimo 5 meses por ano para pagar impostos e assistirmos calados a total dilapidação do nosso capital por uma corrupção endêmica facilmente aniquilada por planejamento de curto, médio e longo prazos, com metas críveis, controlado por administradores profissionais submetidos a uma legislação com comprometimento penal claro, como funciona e muito bem em outros países. Ao ser endossada por todos e transformado em lei, o planejamento engessaria a atuação dos políticos que passariam a ser controlados pela participação ativa de uma sociedade unida por um futuro de qualidade.

Ninguém aguenta mais os voos de galinha que marcam essa economia corrompida. E todos terão muito a ganhar e em todos os sentidos como no pacto de Moncloa, que num curto espaço de tempo levou a Espanha de 23ª a 8ª economia do mundo. Porque não podemos nos unir, fazer um pacto social para acabar com a corrupção e nos reinventarmos como diversos exemplos mundiais?

Países que evoluíram tinham planejamento crível socioeconômico, cultural e ambiental para 30 anos, como Japão, Coréia do Sul e etc. Nós estamos pensando no curtíssimo prazo e nenhuma voz se eleva para protestar! Cada vez que se fala em recuperação, o PIB diminui.

Quando se mostra total descrença na classe política, sempre aparece alguém para defender fulano ou sicrano, como se todos não fossem farinhas do mesmo saco, até porque não há uma voz sequer defendendo o óbvio: Um planejamento inibidor deste descalabro legislativo, judiciário e executivo. Repare que após um esforço hercúleo da sociedade civil para a aprovação da lei da ficha limpa, bastou um voto demagógico para anular tudo. Não podemos permitir a derrocada da sociedade civil!

Ou seja, há muita coisa errada e isto não poderá ser resolvido por partidos sem comprometimento com a sociedade ou por políticos eleitos a peso de ouro por agremiações que não ousam revelar seus escusos interesses nestas absurdas e milionárias campanhas eleitorais que prometem sabendo que não vão cumprir. Nem através destes intermináveis abaixo assinados que não produzem resultados.

No momento estamos vivendo uma dicotomia onde o governo federal eleito democraticamente retomou a macroeconomia, abaixando os juros, os spreads bancários, sinalizando que quer criar um mercado interno forte, estimular a economia a sair dos ganhos imorais de capital em cima do capital graças aos juros elevados, sem produzir bens de consumo ou geração de empregos.

Já os governadores e prefeitos ainda não acordaram para a realidade mundial e continuam querendo seguir o modelo neoliberal para manter seus feudos, mesmo que isso traga a bancarrota socioeconômica, cultural e ambiental. Não é a toa que 83% dos municípios não conseguem pagar sequer 20% de suas folhas de pagamento. Para que mudar isso se assim a “máfia” familiar será mantida até o país quebrar? Autossustentabilidade é um palavrão para os políticos locais. Pior, os candidatos municipais são mais do mesmo, se apresentam como novos, mas incrivelmente não apresentam propostas, nem apontam os incríveis erros administrativos que estão ocorrendo e principalmente soluções que produzam resultados ou confiabilidade. É lamentável a falta de conhecimento e de preparo desse pessoal que só promete. Planejamento nem pensar.

É irritante que não haja legado da Copa e que o Maracanã, que expulsou o povão ao acabar com a geral depois de promover um gasto de mais de R$ 1,5 bi, venha a ser alugado por valor irrisório, como o Engenhão. Ainda mais se sabendo que arenas como essa são planejadas para dar lucros em economias desenvolvidas. Porque seguir o modelo Sul Africano se existe o Alemão? Porque ninguém formula perguntas simples como essa? Acorda pessoal, porque a conta vai chegar! Na Bahia e em Pernambuco, os governos estaduais estão implantando conceitos modernos de estádios, mas, não observam as necessárias contrapartidas para atrair a sociedade civil e assim desperdiçarão verbas públicas, como no episódio da cidade da música, que, como se descobriu, jamais se pagará e nem sequer se sustentará.

As midiáticas UPP’s exigem contrapartida no orçamento, porém o governo não investe na revitalização da economia para acompanhar estes custos, além de não criar empregos, nem renda. Torra-se muito em projetos sociais que não dão nenhum retorno, mas que propiciam “supostamente” belos desvios de verba. Isto abre uma lacuna quanto a sua continuidade pós os eventos mundiais, quando cessarão os investimentos federais em infraestrutura que estão gerando os empregos que hoje sustentam a economia do RJ. Não é à toa que na Barra aquela empresa imobiliária sempre falou em construir “30 anos em 5” nos seus terrenos, porque sempre se soube que esse modelo é insustentável. O prefeito de 2016 assumirá com um déficit de no mínimo R$ 2 bilhões, sendo que por enquanto até 2027 teremos que pagar R$ 27 bi. Incrível é ninguém tocar nesse assunto, não?

Após os gravíssimos problemas gregos e do fracasso das instalações chinesas, verdadeiros elefantes brancos, o Comitê Olímpico Internacional (COI) se pronunciou exigindo que no Rio, fosse deixado um irrepreensível legado, pois Londres (preço inicial passou de £ 3 para £ 11 bilhões) só produziu dúvidas e prejuízos, como o fato de ter recebido cerca de 200 mil turistas a menos do que o normal. E o que estamos vendo?

Uma tentativa ridícula de se tampar o sol com a peneira, porque todos os supostos legados estão sendo desmoralizados sistematicamente. Porque gastar dinheiro público com investimentos que não dão retorno, comprovadamente, num mundo em crise que já não permite mais este tipo de falha?

É complicado defender uma linha de metrô que atende exclusivamente a uma festa olímpica e que por não ter sido planejado para atender as reivindicações da sociedade tenha conseguido a façanha de pela 1ª vez unir todas as associações de bairro contra alguma coisa. Sem falar que até hoje não há estimativa de custos, já que o contrato foi assinado sem projeto. Os corredores expressos olímpicos planejados para o uso de ônibus, na contramão mundial de abandono deste tipo de transporte de massa só vem a depor contra uma administração que não tem o menor compromisso com o planejamento, o gasto público, a ética, a transparência e o futuro.

O Píer a ser construído para embarque/desembarque de passageiros dos transatlânticos será um monumento a total falta de idealização e descaso com a indústria turística, já que não oferecerá suporte ao movimento de milhares de pessoas simultaneamente, ou seja, produzirá o caos.

O Centro de Convenções Internacional, localizado no canal do mangue, além de ser um escárnio a indústria do turismo de negócios, ao apresentar um conceito que ofende ao bom senso, ainda teve seu concurso anulado pelo Ministério público, com exigência de devolução do Prêmio, do dinheiro além de exigência de nova licitação. Note que não se toca nesse assunto nem na derrubada da tese de que o Rio vivia um “ciclo virtuoso”, resultado de artigos produzidos pelo Acorda Rio.

Sem falar dos insolúveis problemas da vila olímpica, que aumentam diariamente assombrados pelos fantasmas do Pan e porque até agora não se foi dada uma solução definitiva para o autódromo. É muito escândalo para uma Olimpíada só e mesmo os bilionários gastos em publicidade não encobrem isso.

A revitalização da área portuária com o uso das CEPACs é indecorosa, ao dividir ainda mais uma cidade considerada partida ao promover serviços privados exclusivos para esta área pública além de promoverem remoções de modo autoritário, ignorando o direito de seus moradores, segundo denúncias internacionais. Neste caso, observa-se o absurdo de precisar a mídia estrangeira divulgar essas remoções autoritárias, porque nada sai na nossa imprensa local.

O dinheiro dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (CEPAC) deveria ser obrigatoriamente investido numa solução para o corredor viário desta região central, que hoje é um gargalo quando deveria fazer fluir o trânsito pelas diversas vias da cidade e que notoriamente se encontra defasado há décadas, não atendendo sequer a natural expansão da frota que aumenta 40 mil veículos/ano. Repare que o que está sendo anunciado pela prefeitura como a ampliação de duas para três pistas na Rodrigues Alves não tem a menor sustentação e ninguém toca nesse assunto, o que é um estelionato eleitoral.

Imagine o que acontecerá se for mesmo executada uma aberração proposta pela especulação imobiliária que pretende construir no local cinco mil edificações, a maioria com mais de 50 andares o que provocará o caos na região, com o aumento na circulação de milhões de pessoas. Foi o que aconteceu com SP, que após a aplicação deste instrumento de ocupação do solo descobriu um aumento absurdo do tempo gasto em deslocamentos, além de perda da qualidade de vida local, nos mais variados aspectos. Hoje em dia o uso de CEPAC está vetado lá, pelo Ministério Público! Por que isso não é comentado no Rio?

Como um disparate desses pode ser proposto ao invés de um projeto que revitalize a combalida economia municipal, destruída por mais de meio século de ações demagógicas e que levará um tão necessário e ansiado crescimento planejado socioeconômico, cultural e ambiental a áreas abandonadas pelo poder público, como os subúrbios, a periferia e as favelas?

Como, aliás, foi pensado e executado em todas as revitalizações portuárias pelo mundo que sempre priorizaram a indústria turística por movimentar todos os segmentos da sociedade, simultaneamente, diminuir abismos sociais ao promover aumentos comprovados da renda per capita, gerar empregos dignos a uma população que ficou a margem do processo socioeconômico, inclusive os analfabetos, sem falar dos ganhos em todos os sentidos para a sociedade, principalmente em qualidade de vida, pois uma cidade só é boa para os visitantes quando também o é para seus moradores.

Um turismo bem planejado em cima de nossa vocação natural, considerada universalmente como a maior do planeta, criará um ambiente propício à proliferação de centenas de milhares de micro e pequenas empresas provocando o surgimento de iniciais 1,5 milhão de novos empregos de qualidade, o aumento do fluxo para 25 milhões de visitantes em até 10 anos, fato que incrementará a arrecadação em bilhões de dólares, promoverá a atração do setor internacional de serviços, de fábricas, indústrias e seus fornecedores, levando o Rio à vanguarda mundial e promovendo o retorno do capital investido multiplicado no curto prazo, como aconteceu em todos os lugares aonde o turismo foi utilizado como instrumento de transformação.

Com planejamento e o incremento da arrecadação de impostos, teremos o desenvolvimento integrado dos serviços públicos e privados, da sociedade civil incluindo as minorias, de toda a infraestrutura e dos dois principais vetores municipais, a indústria imobiliária e a construção civil para os próximos trinta anos, gerando não só valor agregado, como pacificando a cidade que se unirá para aproveitar os efeitos de uma atividade que desde que bem administrada, se eternizará preservando nossa beleza natural e nossa cultura que se disseminará em todos os aspectos. Sem falar da natureza que nos rodeia que é um luxo que nenhuma cidade do mundo possui e que nos transformará na imagem mais próxima de um paraíso terreno, ao ser rigorosamente preservada por uma exploração ecológica compartilhada por toda a população.

Onde estão os economistas e empresários que não enxergam na atividade a mola mestra para levar o Brasil a um desenvolvimento ímpar, criando um mercado interno forte e promovendo a industrialização da economia voltada para atender uma população com maior renda per capita além de uma demanda turística de qualidade que incentivará uma diversidade de indústrias, criando desde um hub no RJ para a aviação até zonas de qualidade certificada de nossos produtos, que passarão a ser divulgados diretamente aos nossos visitantes que poderão encontrar aqui um dos mercados mais diversificados, qualificados e competitivos do mundo, desde que criemos uma legislação específica para o setor como acontece lá fora?

Estamos promovendo os mais midiáticos eventos mundiais, investindo em hotelaria, mobilidade urbana, licitando portos e aeroportos entre outras atividades relacionadas ao setor turístico, mas ainda não acordamos para o fato de que a sociedade ainda não foi incluída neste processo e também não enxergou o tamanho das possibilidades que se abrirão de negócios, pois tudo no mundo é turismo. Existe o ramo de turismo médico, religioso, pedagógico, histórico, agro, romântico, ecológico, esportista, social, aventureiro, prêmio, negócios, lazer entre outras modalidades e cada um desses setores movimenta bilhões de dólares anualmente. Atente que aliado a isso, se desenvolvem os mais diversos setores como TI, produtos made in Brasil e principalmente a indústria criativa que é responsável hoje por mais da metade do PIB dos EUA.

Repare que mesmo em plena crise mundial a indústria continua crescendo acima de 4% ao ano, porque enquanto uns choram, outros fazem turismo. Em 2012, a atividade movimentará pela 1ª vez, mais de um bilhão de viagens internacionais, os pedidos de aeronaves se multiplicam e a européia Airbus, abriu fábrica nos EUA. Alguém se lembra da dificuldade de se obter vistos para os EUA? Com o gasto médio do turista brasileiro acima de U$ 6 mil, agora temos tapete vermelho e vendedores falando em português!

Dados de 2009 citam que a cada 12 empregos, um está relacionado diretamente à indústria do turismo internacional que representa 9% do PIB mundial. Ou seja, se formos computar tudo e relacionar as atividades diretas e indiretas, com certeza o turismo movimentará mais de 25% da economia mundial.

Para se ter uma idéia clara de como a importância do turismo é escondida pelos países, vamos usar Barcelona como exemplo: Uma cidade que tem apenas 1,625 milhão de habitantes tem um aeroporto com 32 milhões de embarques/desembarques anuais, fora o movimento do trem bala, cruzeiros marítimos, ônibus de turismo e carros. Por baixo, deve ter muito mais de 21 milhões de visitantes anuais, mas, se formos ver o número de turistas, obteremos cerca de 7 milhões, já que só os que pagam diária em hotel, são considerados como tal. Somente esse grupamento é responsável por 25% do PIB! Os outros alugam apartamentos, ficam na casa de amigos ou parentes e consomem tanto quanto os considerados turistas o que indica que mais de 50% do PIB da Catalunha derive do turismo. Isto é o resultado direto, imagine a conta satélite! Turismo é uma atividade seriíssima e precisamos Acordar para este fato!

E aqui, que somos considerados o maior potencial mundial pela OMT da ONU? Porque o turismo responde por apenas de 3,5% do PIB (IBGE), quando em outras economias o setor tem uma importância muito, muito mais relevante? O que estamos esperando para mudar este quadro, já que todos se beneficiarão direta ou indiretamente?

A concorrência no preço da passagem aérea aboliu em todo o mundo o comissionamento de operadores e agentes de viagens há décadas, prática que ainda se sustenta através de liminares no Brasil. Estes setores estão organizados e mantêm uma política que não produz efeitos. Está na hora de extinguir privilégios e adotar um planejamento que apresente resultados muito mais rentáveis não só para o setor, como para toda a sociedade e o poder público que através da indústria do Turismo poderá promover um desenvolvimento socioeconômico ímpar, tamanho o potencial reconhecido, ainda mais ao quebrarmos o paradigma da customização da atividade para atender a vontade individual de cada viajante, (sonho dourado da Organização mundial do turismo, OMT, da ONU) inserindo-o exatamente onde ele quer estar de acordo com o seu perfil, criando condições para que ele se enriqueça culturalmente falando. Isto além de ser o sonho de qualquer turista ainda proporcionará um retorno fantástico em cima de um tipo de marketing, conhecido como “boca a boca”. Esta é a proposta do Acorda Rio.

Os profissionais do ramo se transformarão em consultores altamente especializados, ganhando como tal, porque com a união de toda a sociedade para uma exploração cuidadosamente planejada da atividade, surgirão milhões de possibilidades permitindo que se seduza qualquer pessoa, grupo ou nicho de mercado em qualquer lugar no mundo, o ano todo e em todas as formas de atração. Com isso o Brasil dará um salto de qualidade em uma década como nenhum país do mundo pôde dar e se tornará líder do setor, até por sua privilegiada vocação natural.

O caminho adotado até agora pelo país, dá sinais muito fortes de esgotamento, apontando que é preciso iniciar um amplo debate nacional sobre os novos rumos a seguir. O Rio conduzirá este processo de forma inexorável, através de um pacto social, sendo que os rápidos resultados obtidos serão o melhor rastilho para provocar um desenvolvimento planejado por todo o país. Com enfoque especial na maior vocação do mundo, levando planejamento ético e transparente de curto, médio e longo prazos como instrumento de transformação a toda a nação, incutindo nos brasileiros a necessidade de participar ativamente do processo democrático.

Acorda, Rio! Que o Brasil virá junto!