terça-feira, 4 de maio de 2010
BRASIL
REGINALDO MARINHO
As exposições universais foram criadas para apresentar ao mundo os novos paradigmas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Arquitetura construídos pelas nações em cada evento. Essas exposições são como uma fotografia instantânea do estágio de desenvolvimento que os países expositores experimentam.
Alguns desses paradigmas permanecem no imaginário universal. Foi assim com o Palácio de Cristal, construído na primeira Exposição Universal realizada em Londres em 1851, obra que inaugurou a arquitetura de ferro/vidro, poderoso emblema da revolução industrial britânica ou a Torre Eiffel construída para Exposição de Paris de 1889.
O comissariado brasileiro da Expo 1862 recusou a participação do protótipo da máquina de escrever do Padre Azevedo argumentando que o pavilhão já estava lotado de amostras de minérios e não cabia mais nada. O Brasil perdeu a primeira oportunidade de mostrar ao mundo um dos mais notáveis inventos nacionais.
Em 1876, o imperador D. Pedro II ao visitar a Exposição Universal de Filadélfia conheceu o invento de Alexander Graham Bell e por causa da visita do imperador à Expo de Filadélfia, o Brasil foi o segundo país do mundo a usar o telefone.
As exposições universais são regidas pelo Bureau International des Expositions que disciplina a participação das nações. Cada Estado nomeia um comissário geral para coordenar a participação nacional. No Brasil, esses cargos são escolhidos sem o foco da competência, motivado apenas por arranjos particulares e esse modo brasileiro causa muitos prejuízos para os avanços da Ciência e Tecnologia nacionais.
Dentre as exposições mais recentes a mais glamorosa foi a Expo 2000. O Brasil foi representado por um estande escandaloso que custou US$ 10 milhões e, segundo o relatório enviado ao Ministério Público Federal, se destacava pela exposição de 5.000 bonecas de pano, 500 almofadas de algodão cru com recheio de flores de macela e colunas que exalavam aroma de café. Um verdadeiro deboche. O MPF condenou os organizadores chefiados pelo filho do presidente da República da época a devolver os recursos aos cofres públicos.
Na Expo 2010 as coisas não são tão diferentes. A seleção para o projeto de arquitetura da Expo Xangai foi dirigida aos associados da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura, AsBEA, com um pouco mais de uma centena de membros, foi escolhido o projeto de Fernando Brandão Arquitetura + Design, que por coincidência é membro da diretoria da AsBEA e o júri foi composto pelo arquiteto Fernando Serapião, editor executivo da revista Projeto Design, Ronaldo Rezende – Presidente da AsBEA, Henrique Cambiaghi – Conselheiro Deliberativo AsBEA, Coordenador do Prêmio AsBEA, Fernando Pinheiro, vice-presidente da AsBEA e titular do escritório Lima Pinheiro Associados e Guilherme Takeda, Conselheiro Consultivo da AsBEA.”
O modelo de contratação para o projeto do pavilhão da Expo 2010 fere frontalmente a Constituição da República Federativa do Brasil no artigo 37, das Disposições Gerais, do Capítulo VII que trata da publicidade e moralidade das ações governamentais.
O arquiteto Marcel Tanaka um dos autores defendeu o projeto assim: “Por isso, desenvolvemos essa fachada, que será feita com pedaços sobrepostos de madeira reciclada e pintada de verde, que vão ser apoiadas em uma estrutura metálica. Tanto a cor, que representa a bandeira nacional, quanto às madeiras sobrepostas, que lembram os artesanatos em palha, são referências ao País.”
No lugar de paradigmas, o pavilhão brasileiro apresenta um cardápio de vídeos em telões de alta definição, como os que ornamentam as fachadas de edifícios de cidades como Tókio e Xangai mostrando as belezas brasileiras e interatividade com toques nas telas que já eram usadas em muitos terminais públicos de internet da Itália há mais de dez anos e são usadas em terminais bancários brasileiros de autoatendimento sem nenhum paradigma apresentado.
A falta de compreensão governamental diante de uma Exposição Universal não se limita a um partido nem a um governante, esse desatino está enraizado no cerne de uma cultura subdesenvolvida e colonizada. O único governante brasileiro que valorizava e tirou proveito de uma exposição dessas foi D. Pedro II. Quando iremos entender que participar de uma Expo não é a mesma coisa que assistir ao desfile de uma escola de samba?
A contratação do projeto do pavilhão brasileiro de Xangai precisa ser analisada pelo Ministério Público Federal.
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