Folia, equívocos e o futuro
Walter Santos - Fonte: http://wscom.com.br/colunistas/coluna.jsp?id=8307&colunista=14
A cidade de João Pessoa convive a partir desta semana com a 17a edição do Projeto Folia de Rua – nosso pré-carnaval -, mobilizando multidões pelas ruas históricas da capital paraibana, embora este ano estejamos reproduzindo na organização da festa atitudes divisionistas geradas a partir da crise política estendida aonde não devia.
Como é de conhecimento geral, este ano o percurso e dispersão oficial dos blocos, que saem na abertura da Folia – Anjo Azul, Picolé de Manga, Pingüim, Maluco Beleza e Confete e Serpentina -, gerou racha no Folia de Rua porque metade resolveu apoiar a proposta construída sob interesse da Prefeitura de João Pessoa para tudo terminar na Praça do Ponto de Cem Réis, ao invés da Praça Antenor Navarro, no Varadouro – berço primeiro de nossa historia.
Volto ao assunto porque os equívocos movidos por disputas políticas sem sentido continuam criando problemas em nossa combalida política de preservação de nossa memória e de nosso patrimônio quando damos as costas ao Varadouro, certamente a ambiência geográfica da cidade a mais merecer atenção.
Como cidadão, folião e animador cultural não posso me furtar à reflexão das coisas porque na prática tenho dado contribuição efetiva para o debate sobre nossos valores, entre eles o Folia de Rua pois, permitam-me a imodéstia, a construção do modelo a envolver o Centro Histórico 17 anos atrás aconteceu quando éramos presidentes da API (Associação Paraibana de Imprensa) contribuindo com a inspiração e costura da abertura e valorização do projeto no Centro Historico, quando muitos queriam reproduzir o formato do AXÉ à época do Recifolia na beira mar de Tambaú e Cabo Branco.
À época nada existia, enquanto Folia de Rua, no centro da cidade.
Mas, o mais importante neste processo de reflexão não é ignorar nem buscar boicotar a presença a Folia no Ponto de Cem Réis – nada disso, entretanto, valorizar essa área não pode significar o fim de uma historia que tem na Praça Antenor Navarro a primeira referencia de dispersão.
Trocando em miúdos, em 2011 espero que os blocos e nossos dirigentes se eximam da priorização da crise política partidária e vejam a indispensável necessidade de compatibilizar as coisas, ou seja, dando dimensão à concentração do Anjo Azul no Beco da Faculdade, ao Picolé no Cordão Encarnado, Pingüim, Maluco Beleza e Confete e Serpentina (ao lado da Catedral Metropolitana, na Praça Dom Ulrico) acatando o Ponto de Cem Reis como grande Pólo da Folia mas sem abdicar de ter também o Pólo da Antenor Navarro.
Como copiamos muito dos vizinhos, lembremos que em Recife a cultura predominante é de ampliar a quantidade de Pólos e não reduzi-las por mero capricho político de quem está no Poder.
É lamentável que até numa condição tão espontânea quanto deve ser o carnaval haja a interferência indébita afetando nossa história e nossos valores humanos. Um dia, quem sabe, não seja preciso conviver com esse retrocesso sentimental e estratégico.
Cadê a Marca da Folia?
As principais TVs da capital têm reproduzido inúmeros comerciais de blocos do Folia de Rua mas, infelizmente, ignorando a importância de veicular também a marca do projeto como um todo porque a omissão é injustificável enquanto valorização da organização.
Quando possível, depois do carnaval, a Assembléia Geral da Associação Folia de Rua precisa estabelecer a obrigatoriedade de inclusão da Marca em todas as peças e campanhas publicitárias a envolver os blocos porque do contrário é acabar com a entidade e jogar a chave no mar – do que nós discordamos fortemente.
Acho até que quem desobedecer dessa consciência e norma precisa sofrer sanção estatutária da Associação porque seria restabelecer o respeito à historia da Folia.
Os espaços e percursos dos lideres politicos
Devo, antes de tudo, abrigar como realidade os movimentos politico - partidários que permeiam os principais movimentos nos bastidores da Folia com Ricardo Coutinho na condiçao de prefeito da cidade fazendo suas manobras, da mesma forma que o governador José Maranhão, através do vice-governador Luciano Cartaxo, faz as suas.
Na prática, certamente que aliados do governador vao ocupar espaços nobres no Picole de Manga, enquanto os de Ricardo farão o mesmo no Ponto de Cem Réis.
A rigor, isso só se evidencia quando a organizaçao não tem independencia financeira para se impor e exigir que todos participem mas acatando a programaçao da Folia e não o contrário.
Tomara que um dia possa haver melhor e mais bom senso, com cada um na sua mas todos participando no somatório da festa.
Como acontece noutros estados
Comumente , cada segmento politico controi seu espaço / camarote e convidada seus amigos e aliados tendo a organizaçao, também, seu espaço convidando autoridades e pessoas à participaçao do espaço.
Além do mais, há uma forte participaçao dos patrocinadores privados cada um com seu camarote maior e mais bem equipado do que outro - o que nao tem acontecido conosco ao longo dos anos.
É nessa composiçao que precisam refletir e trabalhar para te-la de forma bem resolvida.
Última
“Ai que saudade/ dos carnavais/
Dos tempos de outrora...”
Walter Santos
ws@wscom.com.br
O colunista Walter Santos acumula a condição de jornalista, multimidia e diretor executivo do Grupo WSCOM - empresa pioneira no jornalismo na WEB a partir da Paraiba e responsável pela Revista NORDESTE, mais importante publicação circulando nas 9 capitais da região, mais SP, Rio e Brasilia.