segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

PRA GONZAGUINHA

Fonte: http://www.portalbip.com/colunistas/ivaldogomes/ivaldogomes_base.html




Ivaldo Gomes


Assim, passeando pela vida me peguei com saudades de Gonzaguinha. Talvez muitos de hoje nem lembre bem dele. Eu acho difícil. Eu sou fã dele e qualquer declaração de fã é sempre suspeita. Mas pego assim ouvindo suas músicas e lembrando os momentos em que as ouvi e seu significado naquela hora. A arte tem dessas coisas. Marca um tempo. Deixam seus signos, suas expressões. São músicas, poemas, peças, danças, filmes, artes plásticas, visuais, manuais, artesanais, tão banais como símbolos e címbalos a representar ato e sonoridade de uma identidade temporal. Gonzaguinha morreu cedo.


Eu tenho uma questão comigo que diz que a morte deveria se esquecer de algumas pessoas. De propósito. Gonzaguinha é uma delas. É aquele cara que colocou sua emoção, sua sinceridade, seu posicionamento político, ético, com o coração. Disse com sinceridade o que achava. Dai que muitos se chocavam com ele. Era direto como um soco de Mike Tyson. Falava do amor, da saudade, do sonho, da realidade, como ninguém. Era um otimista convicto e com propósitos. Basta ver, ler, ouvir, degustar suas letras e ai você vai perceber a profundidade do seu sentimento.

Se Gonzaguinha vivo estivesse o que teria feito até hoje? Pergunto isso hoje quando me encho de sua música e saudade. Um companheiro, o moleque, um menino, que fez da vida um hino à liberdade. Em todos os sentidos. Compreendeu como ninguém aquele momento angustiante em que a ditadura militar, esgotada, não tinha nada a oferecer. E o futuro incerto, lá fora, depois da barricada era o único futuro. E ele dizia que a gente deveria ser feliz. A força dos nossos corações iria fazer isso. Porque acreditamos que é possível, de verdade um mundo melhor. Onde as coisas possam acontecer de verdade. De forma justa. Com solidariedade e respeito. Gonzaguinha acreditava também nisso.

A música, a poesia, a vida, todos nós perdemos muito com a morte prematura de um homem que se colocou no seu tempo e na sua hora a cantar por coisas verdadeiras. Escutar Gonzaguinha além de ser um momento de muita emoção, por sua criticidade, força de suas letras e significado, ele consegue sempre lhe deixar uma mensagem. E ela é sempre positiva, fortalecendo a vontade de ser sempre melhor. Justo. Honesto. Amoroso. Sincero. ‘Não preciso de cem sapatos se só tenho dois pés’. Mas acho que todos devem ter o que for possível e necessário. ‘Pois tudo é possível, mas nem tudo é necessário’. E Gonzaguinha dizia, diz, isso como ninguém. Escuta ele ai e depois tu me fala.