Falar das pessoas que morrem é fácil. Principalmente quando a gente a julga amiga da gente. O difícil é conviver com a falta física do amigo. Por isso que sempre que posso louvo os amigos em vida. Justamente pra não ter que escrever quando eles morrem. Ah! A morte! Essa filha do acaso que a tudo leva, puxa, esconde da gente. A Paraíba é pródiga em artistas e mais ainda em talentos exuberantes como era e é Radegundis Feitosa. O homem que tinha uma gargalhada que era uma assinatura de tão pessoal. Bastava ele rir, que mesmo de longe, todos diziam: Radegundis Feitosa! Mas era com um trombone de vara na mão que a gente descobria sua eterna grandeza.
Deus lhe deu o talento de fazer de um trombone de vara uma extensão da sua vontade. É como se você colocasse Radegundis em agudos e graves. De alma inteira se entregava ao trombone como se ele fosse parte de si. Quem teve o privilégio de vê-lo em execução sabe do que estou falando. Dizem que ele era o maior trombonista de vara da atualidade. Isso agora pouco importa, pois a quinta feira passada se fez de vampira do dia e o levou pra longe da gente. Junto com ele mais três grandes músicos: Roberto Ângelo, Adenilton França e Luiz Benedito. Realmente o céu ganhou um quarteto e tanto. Não culpo o bom gosto de Deus, mas tinha que ter sido agora? Isso é o que não nos conforma.
Radegundis é da mesma fibra que foi feita Sivuca e Canhoto da Paraíba. Os três podem ser citados como exemplo de virtuosidade na musica. Cada um com seu instrumento. Outro que merece destaque é Jackson do Pandeiro com seu gingado e ritmo. Tem horas que fico a imaginar qual é mesmo o propósito de Deus quando nos manda pessoas como essas. O que ele quer nos dizer com isso? Será que é pra nos mostrar que a gente pode e deve ser melhor do que é? Pois os vendo em êxtase na execução dos seus talentos, nos causa uma alegria e uma certeza de que realmente Deus fez o homem/mulher para um bom propósito. Os `políticos' e os banqueiros é que acabam com eles.
Imagino como não deve estar seus parceiros na musica. Alunos, companheiros de batente, da noite. O seu amor, seus filhos e toda essa dor no meio do mundo. Xisto, Teinha, Bebé de Natércio. Seus amigos e colegas da Orquestra Sinfônica da Paraíba. O Sexteto de Trombones. Os maestros amigo deles. Uma desolação só. Mas agora só nos resta a lembrança. O testemunho gravado para a eternidade de um grande músico paraibano que tinha tanto ainda a nos dar, proporcionar. E a gargalhada? Ficar sem ouví-la será um silêncio ensurdecedor. Que vá em paz. Que Deus os guarde junto de si. E obrigado por existirem e nos ter causado tanta emoção.
Ivaldo Gomes