sexta-feira, 24 de julho de 2009

VALDEZ

A classe rica, aristocrática, é a mesma em qualquer lugar. Em tempos avoengos, boatou que os ricos eram ricos devido a providência divina, e, com a ajuda da Igreja, que os pobres deveriam ser sempre pobres, com a graça de Deus... Não é sem razão que a pobreza ainda acredita que estudar faz maluquecer as pessoas. Eis que o vulgo atribuia as esquisitices de Don Quixote ao fato deste se haver metido com os livros. Só que vieram Voltaire, Diderot, Rousseau, e o honorável Calvino, a dizer que um peido, dado após uma boa comida e a um bom vinho, era mais confiável que essas estórias criadas pelos ricos.

No Brasil, está a divulgar que um operário não tem condições de governar o país; que a vaca vai para o brejo se Lula for eleito Presidente; que o Brasil vai enveredar pelos caminhos da Argentina.

A mesma coisa diziam os aristocratas de Thomas Jefferson, que também havia nascido sem eira nem beira; diferentemente de Washington, John Adams e Alexandre Hamilton, homens de berço e ricos proprietários. Consolidada a independência americana, trataram os aristocratas, federalistas, de criar mecanismos jurídicos para dificultar a ascensão do Zépovinho ao poder. Criaram um Estado centralizado e um colégio eleitoral, somente constituido de bem nascidos, que indicaria os candidatos a candidato.

Jefferson, claro..., se opunha aos federalistas. Estes, por sua vez, diziam que Jefferson era um perigoso demagogo, livre-pensador, partidário do amor-livre, e que tinha vivido muito tempo na França para ser um sincero patriota americano... Esqueciam-se de que os franceses tinham emprestado dinheiro e homens à causa da Independência, entre os quais se destacara a figura exponencial do jovem Marquês de La Fayette, que lutara ao lado de Washington. Curioso que os americanos, durante a luta pela independência, concluiram inúmeros tratados de amizade com a França.

Em 1789, ano da queda da Bastilha, foi a vez dos franceses cobrarem dos americanos uma ajuda. Madaram Genêt aos EEUU, com a mesma finalidade com que Mister Benjamim Franklin, poucos anos antes, havia aportado na França. Mas havia uma enorme diferença... Na América a revolução tinha posto no poder proprietários, aristocratas e a classe alta; na França o poder estava nas mãos das massas pobres, dos democratas, das multidões desprezadas dos cortiços. O governo americano escorraçou Monsieur Genêt e aliou-se à Inglaterra, inimiga da França. Para coibir quaisquer manifestações contrárias a essas medidas fez aprovar pelo Congresso: a) Lei dos Estrangeiros, que aumentava de 5 para 14 o número de anos necessários para um estrangeiro obter a cidadania americana, além de permitir prender e exilar todo estrangeiro considerado indejável, ou que pertencesse a uma nação em guerra com os EEUU; b) Lei das Sedições, que permitia prender quem falasse mal do governo, do Presidente e das casas do Congresso, ou quem instigasse a oposição contra um ato legal do Congresso ou do Presidente.

Ocorre que o povo americano não esquecera da ajuda que recebera do povo francês e foi para as ruas protestar. Thomas Jefferson conseguiu que algumas Câmaras estaduais votassem pela inconstitucionalidade da Lei das Sedições, vez que esta cerceava as liberdades de expressão. Foi no topo dessa indignação popular que Thomas Jefferson foi eleito o terceiro presidente dos EEUU, em 1809. Um homem sem berço, que abriria um precedente para que, mais tarde, um lenhador ocupasse, também, o posto mais importante dos EEUU.

Precisamos mudar... Acreditar, como os americanos, que qualquer cidadão de bem está capacitado para dirigir os destinos do nosso país, seja ele lenhador, torneiro mecânico ou professor de sociologia das arábias!

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