sábado, 6 de fevereiro de 2010

ABERTURAFOLIA









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Fui, vi e não gostei

Ivaldo Gomes

Fui a ‘abertura’ ontem do Folia de Rua. Ou melhor, do ex-Folia de Rua. Pois na prática o Folia de Rua se amesquinhou, quando resolveram juntar a espontaneidade do carnaval fora de época de João Pessoa, com os interesses sempre mesquinhos de algum candidato a alguma coisa. Nem que seja pra sair nas calúnias sociais. Mas se der pra colocar a família em algum cargo comissionado, seja da PMJP, seja do governo estadual, ai é a glória. E a PMJP – com seu projeto personalista – de forjar uma nova nomeklatura de pseudo poderosos de plantão, faz tudo e mais um pouco para arregimentar corações e mentes, e mente quando diz que quer revitalizar as coisas por aqui. Quer mesmo é instrumentalizar a galera e isso ficou mais do que claro ontem. Fazer do povo massa de manobra para que seus interesses pessoais possam de fato ser atendido.

Já que estamos abrindo o verbo, não vamos poupar as críticas. Comecemos pelo não menos envolvido administrativamente presidente do Folia de Rua, o artista plástico Clóvis Junior. Como o Folia de Rua vem se vendendo ao longo do tempo aos poderes públicos em troca de ‘patrocínio’ (quem não se lembra de políticos com dedos em ‘V’ desfilando em trios elétricos pela avenida nas Muriçocas do Miramar?). O fraco presidente, com familiares em cargos estratégicos na PMJP, simplesmente deixou que o prefeito decidisse como seria o Folia de Rua esse ano. Juntou meia dúzia de seis num palco armado – de forma errada na quadra de esportes que se transformou o antigo Ponto de Cem Réis, e deixou todo mundo em pé, tomando álcool e ‘abrilhantando’ o show de abertura, que, diga-se de passagem, foi uma bosta. Enquanto o povo, feito gado, em pé e abespinhado ficava a ouvir o som ruim que saia do placo, o prefeito atrás do mesmo dava entrevistas a imprensa como o ‘maior estrategista carnavalesco dos últimos tempos’.

Na verdade o que restava do Folia de Rua – de forma espontânea – jazia no Beco da Faculdade de Direito, onde o tradicional e insuspeitíssimo Bloco Anjo Azul tentava se concentrar no que restou da festa. Lá sim, se viu alguma coisa de espontâneo. Mas como isso não está atrelado ao apoio de ninguém, logo pode ficar sem apoio e sem brilho nenhum. Até o corte de energia elétrica foi tentado pela Energisa. Não se sabe a mando de quem. Foi preciso que a gente dissesse alto, claro e bom som, que se tentassem desligar o filho único e singular spot ali ligado, o funcionário da insensata e desonesta fornecedora, poderia até subir no poste. Mas não teria escada pra descer dele. De chofre, eles caíram na real e tiraram de fininho pras banda do Ponto de Cem Réis. O Bloco, pela primeira vez na vida, concentrou mais não saiu. Não saiu como não saiu bloco ou ninguém pra canto algum, deixando o Centro Histórico num maior mausoléu. A Praça Antenor Navarro, foco e centro de festas memoráveis, jazia na noite do descaso. E olhe que tudo isso é feito em nome de uma ‘tal revitalização’ que ninguém vê.

Por outro lado João Pessoa entra, definitivamente, no esquema da disputa por quem consegue fazer a ‘melhor’ festa. Foi assim no Reveion – que não pisei por lá – e repetiu-se ontem na ‘abertura’ do Folia de Rua. Que eu ainda acreditava que poderia ser diferente. O Vice Governador Luciano Cartaxo, dono do Bloco Picolé de Manga, resolveu inovar esse ano e contratou nada menos que Elba Ramalho pra fazer a ‘abertura’ do bloco no mesmo horário da outra abertura ‘oficial’ (será que com recursos próprios?). Pra que você tenha uma idéia, lá no Picolé de Manga tinha nada mais nada menos que três palcos armados. Foi à maior abertura do mundo que já vi de um bloco de carnaval no Folia de Rua. E claro, toda a entourage – coincidência? – do Governo Estadual estava por lá em aconchegante e estratégico palanque, dando beijinhos e adeus para o povo. Ah o povo! Esse ficou de lá pra cá, gastando a sola dos sapatos comprados em dez prestações no Hipercard, achando que participava de uma festa feita por eles. Pois é, o Folia de Rua deixou de ser uma festa do povo, pelo povo e para o povo. É agora, é apenas palanque eleitoral onde se for ao Picolé de Manga, é de Maranhão, mas se for pro Ponto de Cem Réis é de Ricardo Coutinho. Meu estomago dá embrulhos com toda essa nojeira.

Por tudo isso dá pra entender como será o resto do Folia de Rua esse ano. Que bem poderia ter o título mudado para: ‘A Justiça na Paraíba não é apenas cega, é burra e conivente’. Pois esse vai ser o Folia de Rua da propaganda eleitoral fora de época. Deve ser pra combinar com o carnaval fora de época. É a única explicação pra entender tudo isso que se faz com o maior patrimônio imaterial que João Pessoa conseguiu construir ao longo de um projeto popular, espontâneo, chamado Folia de Rua. Um projeto que já chegou a reunir mais de um milhão de foliões. Isso é mais que a população da capital. Hoje, do jeito que vai, e da forma como está sendo conduzido – para beneficiamento de uns poucos – pode morrer na praia, literalmente falando. E olhe que o Busto do Almirante Tamandaré já viu coisas melhores que estas que vão passar por ele esse ano. Afora o baile do Cafuçu hoje à noite – e espero que lá também não esteja o desfile de candidatos a patifes – nada mais a esperar do antigo Folia de Rua. Pois até o desfile do Cafuçu, na minha humilde opinião, está fadado a entrar pro rol de mais um que foi instrumentalizado para dar crédito a quem não sabe usá-lo. Basta ver as apostas e as coligações.

No mais é lamentar que tudo isso tenha chegado a esse nível e conferir a ‘competência’ da administração municipal, a proeza de transformar um movimento popular e espontâneo, numa grande romaria, onde o estímulo à bebedeira, a facilidade de gangs agindo, com roubo e violência, o desrespeito com a população passou a ser a regra. Pois de espontâneo e popular o Folia de Rua vem perdendo sua essência, para bancar a esperteza e a indecência de alguns. Tá mais do que na hora de fazermos uma avaliação pública de tudo isso. Se for pra continuar assim, defendo urgentemente o Folia de Rua durante o carnaval tradicional da cidade. Pois se for pra sair às ruas pra ser cabo eleitoral de fulano e sicrano, estamos literalmente fora desse corso. Já estamos mais do que cansados de sermos tratados como massa de manobra pra atendimento da esperteza dessas figurinhas carimbadas, que só querem além do nosso voto, nossos impostos, nosso silêncio e nossa conivência. Vão lamber sabão que é mais honesto.

Folia de Rua onde? Só se for nos cargos comissionados da PMJP e do Governo do Estado. Ai a folia é grande. Alô Ministério Público, alguém em casa?