terça-feira, 29 de setembro de 2009

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Fonte: http://www.tribunadocariri.com/index.php?sec=coluna_post¬icia=792

A preservação do bem artístico e cultural em suas diversas formas e aspectos deve ir além dos conceitos técnicos e acadêmicos. Preservar o passado e seus traços não é apenas uma tarefa de historiadores, de arqueólogos ou de museólogos. Cada cidadão deve fazer-se historiador do seu próprio clã. Cada indivíduo deve manter viva a ação de fazer uma permanente manutenção do acervo cultural, do patrimônio seja arquitetônico ou urbanístico e ambiental. A sociedade não pode ficar a reboque dos poderes públicos porque estes não pensam, são insensíveis à cultura.

É imprescindível e se faz premente uma reflexão sobre as diferentes formas de preservação da memória. é necessária uma nova consciência e uma nova visão para caminharem juntas com o objetivo de salvaguardar as riquezas culturais. A igreja matriz de N. S. das Dores, em Monteiro, por exemplo, construída no início do século passado, além de valioso patrimônio arquitetônico, mistura do estilo colonial, ora com um toque gótico, ora com influência barroca, tem um acervo riquíssimo contido nos afrescos com a Via Sacra, concepção da genialidade do nosso Michelangelo, de Sumé, o mestre e poeta da pintura, Miguel Guilherme. Esse tesouro em forma de arte pictórica está ameaçado de extinção.

O legado artístico de Miguel Guilherme dos Santos, nascido em 1902, no distrito de São Tomé, em Monteiro, que foi gênio sem nunca ter tido escola, mas teve talento e lhe sobrou amor pela arte, é para ser visto e admirado por todas as gerações atuais e as que virão. A igreja de Monteiro é um dos monumentos raros, assim como todas as outras riquezas que o povo brasileiro tem, ignora e não dá o mínimo valor. Pois bem, a trajetória de Jesus na Terra, inserida na pintura impressionista do gênio sumeense, foi concluída em 1932, portanto há exatamente setenta e sete anos.

O mestre das artes plásticas também foi responsável pelos afrescos das igrejas de Sumé e da vizinha cidade de Sertânia, em Pernambuco, da catedral de Campina Grande - Matriz de Nossa Senhora da Conceição – que foram destruídos num incêndio criminoso em 1963. Ele também trabalhou em esculturas de algumas figuras, inclusive esculpiu um busto de corpo inteiro do poeta Zé Marcolino. Ele deixou uma imensurável obra, inclusive a pequena parte da sua lavra que está exposta no Museu Assis Chateaubriand, em Campina Grande.

Mas, trocando em miúdos vamos ao que interessa. O fato é que a igreja de N. Senhora das Dores, que tem essa riqueza na sua nave, está necessitando de reparos urgentes com a substituição do telhado, que não resistirá ao próximo período de chuvas e os resultados serão catastróficos para essa obra de rara beleza que será varrida da abóbada do referido templo, caso providências urgentes não sejam levadas a efeito.

Os filhos de Monteiro têm que acordar para este chamamento. Não posso e nem devo pensar que todos ficarão inertes ante a ameaça que paira sobre essa valiosa riqueza artística, cultural e histórica. é bem verdade que sempre aparece dinheiro para contratar bandas de forró eletrônico e para pagar cachês de pseudos artistas que nunca contribuíram sequer com o mais tênue traço cultural. Sempre aparecem recursos aos borbotões para todo tipo de mediocridade. Por que agora, com a ameaça dessa perda irreparável vão faltar os meios necessários e todos irão cruzar os braços? Não posso conceber!... Se um desastre dessa magnitude vier a ocorrer por descaso e omissão da comunidade, doravante, sentirei vergonha de ser filho adotivo de Monteiro!...

A vida consiste em passado, presente e futuro. Quem não preserva o passado, fica perdido no presente e sem a perspectiva do futuro!...

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