Adriana Crisanto - O NORTE 05/02/2009
Músicos, parentes, jornalistas e muitos amigos compareceram ao Cemitério Parque das Acácias, em João Pessoa, para dar o último adeus ao instrumentista Severino Vilô Filho, o Maestro Vilô, de 75 anos, um dos mais respeitados maestros paraibano.
Vilô, como era mais conhecido, faleceu na terça-feira (3), às 19h, no Hospital da Unimed, onde estava internado desde sábado (30), com complicações cardiorrespiratórias, geradas pela diabetes, doença silenciosa contra a qual vinha lutando há mais de nove anos.
O maestro deixou viúva Maria Lúcia Costa de Oliveira e cinco filhos, Marcelo e Márcia Vilô, da Orquestra Metalúrgica Filipéia e Sanhauá de Frevos; César; Carlos; e Marcos Vilô.
O músico Adeildo Vieira, profundo admirador da obra do maestro Vilô, disse que ele foi o responsável por trazer dignidade para a música carnavalesca manifestada não apenas nos palcos com a qualidade das composições, mas também nos bastidores enquanto formador de novos músicos. “Formando consciência em cima da boa música. Isso é unâmine entre os músicos que participaram da vida de Vilô”, completou Adeildo, que está em processo de elaboração de um vídeo documentário sobre a vida e a obra do maestro.
O documentário, que ainda não tem nome, está sendo gravado por Adeildo Vieira e o videasta Adilson Luis, com imagens de Niltides Batista, Patrício e Alfredo Amaral. “Estávamos torcendo muito para que pudéssemos fazer o lançamento do vídeo com ele ainda em vida, mas, infelizmente as condições de trabalho de cada um de nós que estamos envolvidos não nos permitiram”, acrescentou Adeildo.
Com o agravamento da doença, foi antecipado o CD “40 Anos de Frevo”, produzido no final do ano passado, gravado no estúdio de Sérgio Gallo, com 14 canções. O CD, que ainda está sendo prensado em São Paulo, traz frevos e marchinhas de carnaval que levam assinatura de Vilô e outros parceiros, a exemplo de Livardo Alves (já falecido), Arthur Silva, Marcos Melodia, Assis Alcântara, Zito, além de músicas de autoria de novos cantores da terra, como Fuba, Ricardo Fabião, Bombinha, Jonas Batista e Mathias, entre outros.
O presidente da Ordem dos Músicos do Brasil, seção Paraíba (OMB/PB), Benedito Onório, amigo pessoal de Vilô, lamentou o falecimento prematuro do maestro. “Ele era um dos ícones da música paraibana na especialidade frevo. Um grande maestro. Ele foi conselheiro por vários anos na Ordem dos Músicos”, acrescentou Onório.
O Maestro Severino Vilô Filho era natural de Serra Branca (PB), mas adotou a cidade de João Pessoa aos 24 anos de idade, quando veio trabalhar na área comercial. Era filho do também Maestro Vilô, que o despertou para a música, sendo estimulado por colegas de trabalho.
Foi quando trocou o balcão pela música, no ano de 1958, período em que ingressou na banda de música da Polícia Militar como trompetista e logo depois na Orquestra Tabajara de Frevo do Estado.
Um dos músicos que o acompanhou em quase todas as orquestras foi o baterista Geraldo Marcelo. “Eu comecei a tocar com ele em 1972. Ele era um pai para todos os músicos. Um homem excepcional. Senti muito ontem, não dormi e hoje vim dar meus agradecimentos por tudo que ele fez por mim”, disse Geraldo, emocionado, que hoje reside no município de Pilar (PB).
Chateado com o caminho que seguia a música de carnaval, Severino Vilô Filho decidiu então criar sua própria orquestra de frevo. Inicialmente, a Orquestra Tupi de Frevos, que animou 41 carnavais de clube da Capital, iniciando pelo Clube Astréa e depois o Esporte Clube Cabo Branco (onde fez 21 carnavais) e cujo conjunto recebeu a denominação de Vilô e Sua Orquestra.
Ele foi parceiro de grandes maestros de orquestras de frevo, a exemplo de Severino Araújo, Maestro Cipó, Guedes Peixoto, Nelson Ferreira e Claudionor Germano. O maestro deixa uma família alegre e calorosa. Casou três vezes e teve cinco filhos, dos quais três, Marcos, Márcia e Marcelo Vilô enveredaram pela arte musical. O último, inclusive, com o afastamento do pai por motivos de saúde, é hoje regente da Orquestra de Vilô, um dos símbolos da resistência do frevo paraibano, característica que elevou o Maestro Vilô à condição de "homenageado especial" da Prévia Carnavalesca Folia de Rua, em 2000.
Membro de uma árvore genealógica musical paraibana, o Maestro Vilô é irmão do também maestro Ninô (falecido) e do saxofonista Geraldo Araújo e é tio do regente Roberto Araújo e da jornalista dos Diários Associados Paraíba, Fátima Sousa (Mana).
Vilô sempre foi referência para os mais antigos, mas também para os mais novos músicos, como é o caso do trompetista Ranilson Farias, que tocou nos últimos anos com o maestro na orquestra. “Foi um aprendizado e uma experiência muito grande ter tocado na orquestra de Vilô. Vou carregar isso comigo na minha bagagem", disse Ranilson que também integra o CD “40 Anos de Frevo”.
SAIBA MAIS
Um dos poucos reconhecimentos que o maestro Severino Vilô recebeu foi o título de Cidadão Pessoense, em 2004. A homenagem foi proposta pelo então vereador Fernando do Grotão, como reconhecimento ao trabalho prestado pelo maestro, filho do Cariri Paraibano, à cultura musical do Estado.
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