sábado, 17 de março de 2012

ADEUS A MINEIRA ATIVISTA POLÍTICA DOMITILA CHUNGARA

INSTTUTO HUMANISTA UNISINO NOTÍCIAS » Notícias Quinta, 15 de março de 2012 Faleceu Domitila Chungara, a mineira que enfrentou as ditaduras A virulência de um câncer, finalmente, venceu Domitila Barrios de Chungara, a indomável mineira, cuja coragem foi pedra de tropeço para as ditaduras militares que governaram a Bolívia, entre 1964 e 1982. Chungara faleceu na madrugada do dia 13 de março, em Cochabamba, segundo informaram seus familiares. No próximo dia 7 de maio completaria 75 anos. Nota da IHU On-Line: Domitila Barrios de Chungara ficou conhecida no mundo todo quando a professora brasileira Moema Viezzer publicou o livro “Si me permiten hablar...Testimonio de Domitila – uma mujer de las minas de Bolivia”, com original em espanhol. Moema a conheceu na Tribuna do Ano Internacional da Mulher, no México, onde começou a recolher o seu testemunho. A reportagem é de Mabel Azcui, publicada no jornal El País. A tradução é do Cepat. O Governo do presidente Evo Morales decretou três dias de luto pela morte da líder mineira, a quem a ministra de Comunicação, Amanda Dávila, qualificou como “uma das mais importantes representantes da luta pela democracia na Bolívia”. Sua indignação contra os militares após o massacre de São João, em 24 de junho de 1967, custou a vida de seu filho que morreu ao nascer numa cela lúgubre, sem auxílio e vítima dos chutes e golpes dos militares, que a detiveram por afrontas. O Governo do general René Barrientos interveio militarmente nos distritos mineiros para frear uma greve, e na noite de São João acabou com a vida de dezenas de homens e mulheres nas minas de Catavi e Século XX. Defendeu a luta conjunta de mulheres e homens contra a exploração do trabalho Os distritos mineiros foram novamente ocupados militarmente após uma greve em protesto contra o regime de Hugo Bánzer (1971-1978). Domitila Chungara se refugiou numa mina junto aos dirigentes do setor, mas teve que sair forçada por parto, desta vez de gêmeos. Um deles estava já morto em seu ventre, aparentemente devido aos gases tóxicos do interior da mineradora. Em dezembro de 1977, quatro esposas de trabalhadores mineiros começaram uma greve de fome, no arcebispado de La Paz, para exigir do Governo de Bánzer uma anistia política e o retorno à democracia mediante eleições gerais. Pouco depois, Domitila Chungara aderiu ao jejum e em poucos dias foi seguida por milhares de bolivianos, em todo o país, até conseguir de Bánzer o decreto de anistia para milhares de exilados políticos e a promessa de eleições, em curto prazo. Primeiro, ela trabalhou como “palliri” (dedicada a recuperar minério entre os resíduos ou desmontes) para alimentar seus cinco irmãos e sua mãe doente e sem planejar começou sua carreira política como secretaria executiva do Comitê das Donas de Casa do Século XX, um instrumento vital de apoio aos sindicatos de trabalhadores mineiros. Essa convicção da luta conjunta de homens e mulheres, contra o sistema de exploração do trabalho, sacudiu desde seus pilares o palanque do Ano Internacional das Mulheres, que foi comemorado no México em 1975. Contra toda a corrente do feminismo, radicalmente presente nesse fórum, a líder mineira afirmou que a luta da mulher não podia ser contra o homem, mas contra o sistema de dominação econômica, política e cultural dos povos. Para ela, a mudança devia se dar mediante a igualdade de direitos de homens e mulheres, o acesso igualitário à educação e ao trabalho, para empreender uma luta, em conjunto, contra a opressão e a dominação do capitalismo. Mãe de 11 filhos, quatro deles falecidos, foi para o exílio na década dos anos de 1980, porém logo voltou à Bolívia e se instalou em Cochabamba, onde impulsionava um centro de formação política, especialmente destinado aos jovens dos bairros mais empobrecidos da cidade. Em sua terra natal, Pulacayo, e nos distritos mineiros de Oruro e Potosí, foram decretado luto. Para que a despedida de Domitila Chungara seja com honras, a administração de Cochabamba colocou à disposição suas instalações, como homenagem a uma mãe coragem e a uma líder indômita frente aos regimes militares na Bolívia. Denise De Paulo Pacheco

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