quinta-feira, 16 de julho de 2009

CINEMAPARAHYBANO

situação do cinema no Nordeste


Com o filme ”Por 30 Dinheiros” convidado recentemente para participar de festivais de cinema europeus, como o holandês Câmera Mundo, a cineasta paraibana Vânia Perazzo Barbosa ganhou destaque esta semana em entrevista a Radio France Internationale, concedida a jornalista Pamela Valente, onde falou sobre seu filme de ficção, dos novos projetos cinematográficos e da situação do cinema nordestino.

Vânia estudou cinema em Paris, retornou ao Brasil e se instalou no estado onde nasceu, a Paraíba. É produtora, diretora de documentários e estreou na ficção com o longa “Por 30 Dinheiros”. Sobre esse trabalho ela conta que a idéia original era fazer um “road-movie”, um filme onde os personagens viajam de carro por várias cidades. Mas, pela falta de fundos, se tornou um “foot-movie”, um filme onde os personagens viajam a pé:

“O filme é um novo olhar sobre o misticismo nordestino, esse tema foi muito abordado pelo cinema novo, mas sempre de uma forma mais dramática e até trágica, e no caso do Por 30 dinheiros é uma abordagem tragicômica. A história é de um circo que apresenta a paixão de cristo, e, então, os personagens que fazem o Cristo e o São Pedro roubam o dinheiro e fogem, a partir daí passam a ser perseguidos pelo diretor do circo que é o Judas. Vai desde a região da caatinga até aqui no litoral, onde surpresas vão acontecer e vão mudar a vida dos principais personagens”, afirma.

De acordo com a diretora, “Por 30 Dinheiros” foi realizado com muito trabalho, captando recursos e formas de distribuição. “Nós trabalhamos muito antes na pré-produção do filme, por causa de captação de recursos, até chegar o ponto onde podíamos filmar. Filmamos em Super 16 e depois foi ampliado para 35 mm, o Super 16 tinha a vantagem de ser mais barato e cada lata tem 10 minutos, e o 35mm é bem menos, quatro minutos e pouco”, conta.

Para a cineasta os editais de incentivo a cultura foram muito importantes para a finalização da obra: “Nós estávamos com o filme na lata e o Ministério da Cultura lançou um edital para finalização de longas, conseguimos ser um dos escolhidos e assim terminamos o filme em 2005. Mas, foi muita luta apara conseguir chegar até o final, se você olha nos créditos do filme eu e o Ivan, estamos em quase tudo, desempenhando várias funções”. Para a realização de Por 30 Dinheiros ela teve o apoio da Lei do Audiovisual, do Banco do Nordeste, e do Banco do Estado da Paraíb (que posteriormente foi privatizado e não existe mais), e da Lei Municipal de Cultura.

Já para a distribuição, os realizadores não contaram com dinheiro nenhum. “Ficamos apenas com uma copia e ai o filme passou a ser veiculado em festivais, mostras e circuitos alternativos, por exemplo, da Programadora Brasil, do Programa Sesc o Cinema vai a Escola”, explica a diretora.

A cineasta ressaltou ainda a problemática da captação de recursos através das leis de incentivo fiscal, que acaba centralizando os recursos nas mãos de uma pequena parcela dos produtores brasileiros. “Pra ter incentivo fiscal você vai ter que ter empresas grandes e que tenham lucro. E geralmente essas empresas estão no eixo Rio-São Paulo. Apesar de, por exemplo, a Petrobrás abrir edital, o BNDES também”, aponta.

Segundo Vânia a televisão é uma boa válvula de escape para quem produz cinema na região: “sinceramente, eu acho que a televisão é uma janela que abre um espaço bom para você mostrar sua obra pra a população desse Brasil enorme. As grandes redes de televisão do Brasil elas só apresentam quase aquilo que elas produzem”.

Atualmente a diretora trabalha na produção de dois documentários. No primeiro, o imaginário infantil é o tema, onde ela tenta resgatar como crianças do alto sertão paraibano, especificamente da cidade de Sousa, vêem a história de sua cidade. O outro projeto de documentário é sobre o filho de um grande escritor búlgaro, que viveu em Minas Gerais entre 1929 e 1934. “Lá ele deixou um filho do casamento, faleceu em 1944 na Segunda Guerra, e publicou um livro muito bonito sobre Minas, Belo Horizonte e também outras cidades do interior. O livro é belíssimo, nós estamos tentando traduzir esse livro, e ao mesmo tempo fazer um documentário sobre o filho dele que durante cinqüenta anos procurou noticias pelo pai e foi conseguir através de nós”, explica.

Os projetos estão sendo iniciados com recursos próprios, ao mesmo tempo, procura apoio, especialmente através dos editais. A captação está sendo feita em vídeo digital.”Infelizmente, o cinema em película, pelo menos aqui no Nordeste, ta meio condenado, nem que seja para gravar em digital e transformar em película depois, mas mesmo assim sai muito caro”.

Apesar de envolvida com o gênero documental, Vânia Perazzo não esquece o ficcional. Um dos seus planos é de um filme sobre a relação entre cristãos velhos e cristãos novos: “Nós somos descendentes de cristãos novos, que vinham pra cá fugindo da Inquisição, é muito interessante a história porque tem de pano de fundo justamente todo esse legado judaico que nos foi deixado, e existe inclusive pessoas que estão se reconvertendo ao judaísmo. Já existem sinagogas em Campina Grande, vão criar uma aqui em João Pessoa, e o filme de ficção teria isso como pano de fundo, seria a adaptação de Romeu e Julieta para o Brasil da época colonial. O Romeu seria filho de uma família cristã velha, e a Julieta cristã nova. Por incrível que pareça uma moradora aqui perto de João Pessoa foi queimada na fogueira em Lisboa, no século XVIII”, coloca. Para ela, o Nordeste tem potencial para contar grandes histórias “e o Brasil inteiro e o mundo precisavam conhecer, não é só seca não”, encerra.

Redação: janelacultural.com com informações da Radio France Internationale

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